O conflito em Mianmar ganha contornos ainda mais preocupantes após as acusações de que a junta militar estaria bloqueando o acesso humanitário às áreas devastadas por um terremoto de magnitude 7,7. Este desastre natural causou mais de 2 mil mortes no centro do país e deixou comunidades inteiras sem os suprimentos essenciais. Médicos e organizações internacionais relatam dificuldades na entrega de ajuda devido à intervenção militar. Além disso, críticas sobre ataques aéreos contra áreas civis amplificam a indignação global.
Desde o golpe de Estado em 2021, a situação política e social no país tem se deteriorado significativamente. O controle limitado da junta sobre vastas regiões resultou em uma complexa guerra civil, enquanto sua resistência em permitir assistência humanitária completa coloca vidas em maior risco. Especialistas destacam o histórico de negligência do regime em crises anteriores, como a pandemia de Covid-19 e o ciclone Nargis.
A resposta humanitária ao desastre natural enfrenta sérias interrupções devido às restrições impostas pela junta militar em Mianmar. Médicos localizados em Mandalay relataram que suprimentos vitais não estão alcançando suas destinações, com muitos recursos sendo confiscados antes de chegarem aos necessitados. Essa interferência força comunidades a buscar alternativas improvisadas para atender às emergências médicas e básicas.
As consequências dessas barreiras são profundas. Em vez de receberem apoio direto, grupos locais precisam desenvolver rotas clandestinas para transportar alimentos, água e medicamentos. Por exemplo, clínicas provisórias surgiram para substituir sistemas formais de saúde comprometidos. Dr. Nang Win explica que até mesmo pequenas quantias prometidas em auxílio podem ser drasticamente reduzidas quando chegam às mãos dos beneficiários. Este cenário leva à criação de mercados paralelos, onde sobreviventes devem comprar itens indispensáveis por preços inflados. Tal realidade evidencia a urgência de garantir fluxos seguros e transparentes de ajuda humanitária.
Apesar das tentativas de isolamento pelo regime, pressões externas aumentam para que medidas eficazes de assistência sejam adotadas em Mianmar. Organizações globais denunciam continuamente os bombardeios aéreos realizados em zonas civis, reforçando a necessidade de proteger populações vulneráveis durante esta crise. Relatórios indicam que áreas sob controle ou disputadas por facções opositoras sofrem particularmente com a ausência de permissão para entrada de equipes resgatistas.
O representante especial da ONU para Mianmar, Tom Andrews, enfatizou a importância de priorizar vidas humanas em vez de perpetuar violência. Ele menciona consistentemente a existência de relatos confiáveis sobre bloqueios sistemáticos de ajuda. Bryony Lau, da Human Rights Watch, reitera que o momento exige mudanças drásticas no comportamento da junta militar. Diplomatas americanos, como Scot Marciel, lembram exemplos históricos que demonstram a indiferença do regime frente a grandes catástrofes nacionais. Essas vozes unificadas buscam responsabilizar os líderes militares, exigindo que eles abdiquem de práticas prejudiciais e adotem estratégias que salvem vidas. Caso contrário, a tragédia já vivida pelas vítimas do terremoto pode se tornar ainda mais devastadora.