A prática desportiva em Lisboa transcende o simples conceito de lazer, transformando-se num poderoso instrumento de inclusão social e desenvolvimento comunitário. Enquanto a cidade enfrenta desafios no apoio às suas infraestruturas e programas esportivos, surge uma oportunidade única para reavaliar estratégias e revitalizar iniciativas que beneficiam diretamente milhares de cidadãos.

UMA CIDADE VERDE QUE PRECISA DE MOVIMENTO

No coração da capital portuguesa, onde os parques florescem e as ciclovias se multiplicam, existe um paradoxo: enquanto Lisboa é reconhecida como uma referência ambiental, seu compromisso com o desporto parece enfraquecer. Este fenômeno não apenas afeta atletas profissionais, mas também crianças e jovens que enxergam nas quadras e campos locais uma via de ascensão social. A história da cidade está entrelaçada com histórias de superação, onde uma bola ou um tatame podem mudar destinos.Desde sempre, o desporto foi mais do que competição; ele construiu pontes entre culturas e reduziu tensões políticas ao redor do mundo. Nos Jogos Olímpicos, inimigos históricos dividem o mesmo espaço com respeito mútuo. No Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz, celebrado recentemente, esta verdade universal foi lembrada com urgência renovada. Para que tal impacto positivo seja realidade em Lisboa, investimentos consistentes são indispensáveis.

PROMESSAS DESPORTIVAS ABANDONADAS

Apesar dos avanços anteriores, sobretudo durante a gestão socialista, a atual administração municipal parece ter adotado uma postura de inércia. Projetos ambiciosos, como pavilhões esportivos planejados para Campo de Ourique, Parque das Nações e São Domingos de Benfica, permanecem em compasso de espera. O Complexo de Carnide, anunciado repetidamente, ainda aguarda sua materialização. Esses atrasos não são apenas números em planilhas; representam sonhos interrompidos e oportunidades perdidas.Marvila, apesar de seus progressos limitados, emerge como um exemplo isolado de iniciativa concretizada. Contudo, isso não compensa o cenário geral de desinvestimento. Em um país onde 73% da população adulta negligencia atividades físicas regulares, essa ausência de compromisso público tem consequências graves. A saúde pública sofre, e a coesão social perde um importante catalisador.As Olisipíadas, outrora evento emblemático de integração esportiva, foram substituídas por uma versão truncada chamada "Joga Lisboa". Esta nova denominação reflete não só uma mudança de nome, mas uma perda significativa de escopo e ambição. Delegada às juntas de freguesia, a iniciativa carece da amplitude necessária para alcançar todos os lisboetas, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade.

RESISTÊNCIA E CONTINUIDADE NA OPOSIÇÃO

Mesmo fora do poder, o Partido Socialista manteve seu compromisso com o desporto vivo. Programas essenciais, como a natação escolar e o Lisboa +55, evitaram ser extintos graças à intervenção oposicionista. Instituições históricas, incluindo o Clube Atlético e Cultural e o Núcleo do Liceu Passos Manuel, encontraram suporte crucial quando estavam à beira do colapso.Este posicionamento não é meramente político; é uma questão de princípios. A revisão da Carta Desportiva da Cidade, aprovada no final de 2024, deveria ser um marco de renovação. No entanto, após permanecer esquecida por quase dois anos, o documento emergiu desatualizado e incapaz de responder aos anseios da população. Comparativamente, entre 2010 e 2020, sob gestão socialista, houve um aumento expressivo de quase 25% nos equipamentos esportivos disponíveis na cidade. Agora, porém, restam apenas promessas futuristas sem prazo definido.

O DESPORTO COMO PRIORIDADE ESTRATÉGICA

Neste contexto, fica evidente que o desporto não pode ser tratado como um luxo dispensável. Ele é fundamental para melhorar a qualidade de vida, prevenir doenças e fortalecer vínculos sociais. Uma bola, por si só, tem o poder de alterar trajetórias. Desde o improviso nas ruas até os palcos internacionais, o caminho começa na base — nas comunidades locais.Para que Lisboa volte a ser referência no panorama desportivo nacional e internacional, é necessário repensar prioridades. Investir em infraestrutura, garantir apoios financeiros consistentes e criar programas acessíveis a todos devem ser pilares deste novo rumo. Que este Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz sirva como lembrete da importância vital desta causa, inspirando ações concretas e duradouras.