Entre as fileiras de fiéis reunidas nas ruas de Roma, ecoa o legado de Francisco, o primeiro papa latino-americano da história. Sua morte, ocorrida após um derrame no Dia de Páscoa, deixou um vácuo na liderança da Igreja Católica, mas também consolidou seu papel como um reformador incansável.
Milhões de olhos estão voltados para a Basílica de São Pedro neste sábado, onde o funeral do papa será celebrado em meio a uma atmosfera de solenidade e fé. Mais de 50 chefes de Estado e 11 monarcas se unem aos católicos de todo o mundo, transformando a ocasião em um tributo internacional. Entre os presentes, destaca-se o presidente argentino Javier Milei, representando o país natal de Francisco.
As autoridades do Vaticano preveem a presença de até 250 mil pessoas na Praça de São Pedro e cerca de um milhão ao longo do trajeto processional, que percorrerá 6 quilômetros pela cidade eterna. Este desfile, passando por marcos icônicos como a Piazza Venezia e o Coliseu, oferece aos romanos uma última oportunidade de homenagear o papa cujo caixão simples simboliza sua modéstia.
A missa fúnebre incorporará elementos multilingues, ampliando a conexão com comunidades católicas globais. Além do latim tradicional, trechos serão proclamados em inglês, francês, árabe, português, polonês, alemão e mandarim. Essa abordagem inclusiva reflete a visão universalista de Francisco, que sempre enfatizou a importância de dialogar com todas as culturas e tradições.
Particularmente significativo será o momento dedicado aos necessitados. Um grupo seleto de indivíduos em situação de vulnerabilidade social terá acesso privilegiado à Basílica di Santa Maria Maggiore, permitindo-lhes participar diretamente desta despedida histórica. Esta decisão ressoa com o compromisso de Francisco em priorizar os marginalizados, inspirando compaixão em todos os níveis da hierarquia eclesiástica.
Desde sua eleição em 2013, Francisco introduziu mudanças estruturais fundamentais dentro da Igreja. Ele expandiu as funções das mulheres, promoveu maior transparência financeira e incentivou discussões sobre temas delicados como abuso clerical. No entanto, essas iniciativas não estiveram isentas de controvérsias.
Críticos conservadores questionaram certas decisões, argumentando que elas minavam a doutrina tradicional. Apesar disso, Francisco manteve sua postura equilibrada, reconhecendo a necessidade de evolução enquanto preservava princípios centrais do ensinamento católico. Seu famoso comentário "Quem sou eu para julgar?" ilustra essa abordagem pragmática, embora ele tenha reiterado que a homossexualidade permanece contrária às normas religiosas.
No espírito de São Francisco de Assis, o papa adotou práticas que destacavam sua humildade. Em vez de seguir rituais pomposos, ele optou por uma cerimônia minimalista, enfatizando que seu enterro deveria representar a vida de um pastor dedicado a Cristo, não de um homem poderoso. Esse gesto final reforça sua mensagem central: a proximidade com Deus é acessível a todos, independentemente de status ou posição.
Seu sepultamento na Basílica di Santa Maria Maggiore, uma escolha incomum nos últimos três séculos, sublinha ainda mais esse princípio. Ao abandonar o cenário usual de São Pedro, Francisco demonstrou novamente seu desejo de estar entre as pessoas comuns, mesmo em sua partida deste mundo.
A sucessão papal agora entra em fase crucial, com cardeais de diversas regiões preparando-se para o conclave. Espera-se que debates intensos surjam entre aqueles que apoiam a continuação das reformas de Francisco e outros que preferem restaurar práticas antigas. Enquanto isso, os fiéis expressam suas esperanças e receios, lembrando o impacto positivo que o papa teve em suas vidas.
Testemunhas como Laura Grund, de Leipzig, e a irmã Luisa, de Munique, destacam como Francisco revitalizou a Igreja, tornando-a mais acolhedora e acessível. Suas palavras e ações abriram portas que antes pareciam fechadas permanentemente, semeando uma nova era de diálogo e renovação espiritual.