No coração de Moscou, a terceira edição da Moscow Fashion Week realizou-se como um evento que transcendeu as barreiras do mundo da moda. Durante os dias 13 a 18 de março, o edifício Manege serviu como palco para 90 marcas nacionais e internacionais apresentarem suas coleções outono-inverno em um ambiente que pouco reflete os conflitos geopolíticos atuais. Com mais de 65 mil visitantes, o evento destacou uma crescente valorização da indústria local, impulsionada pelas sanções econômicas que afastaram gigantes globais como Chanel e Dior. A semana também atraiu criadores estrangeiros, como Miguel Llopis da Espanha e Samant Chauhan da Índia, demonstrando a abertura russa ao mundo.
Em meio à paisagem neoclássica do edifício Manege, influenciadores, jornalistas e celebridades se reuniram no início deste ano para presenciar uma celebração da moda contemporânea. Marcas locais como IMKMODE capturaram olhares com peças arrojadas inspiradas em personagens místicos, enquanto a etiqueta Ermilov combinava tradições artísticas com inovação técnica. O designer Lev Ermilov explicou sua abordagem detalhada ao criar roupas com golas arquitetônicas, evocando referências históricas. Estrangeiros trouxeram diversidade: Miguel Llopis impressionou com vestidos longos que exaltavam a sensualidade feminina, apesar dos desafios logísticos impostos pela guerra.
A presença internacional foi significativa, mas a ausência de designers brasileiros deixou lacunas. Enquanto isso, o evento gerou debates sobre seu propósito simbólico. Para analistas como Pablo Ibañez, professor de Geopolítica, a iniciativa visa melhorar a imagem global da Rússia e mitigar os impactos das sanções ocidentais. Por outro lado, Paula Acioli, especialista em moda, destaca o crescimento profissional da indústria russa, ainda que sob influências externas.
Com mais de 14 mil compras registradas no showroom, a semana evidenciou tanto potencial quanto limitações. A moda russa busca encontrar sua identidade própria num contexto de transformação constante.
De forma geral, a Moscow Fashion Week não apenas projetou tendências estéticas, mas também revelou como eventos culturais podem ser instrumentos políticos.
Como observador, é impossível não perceber a dualidade presente neste espetáculo. De um lado, há um claro desejo de afirmar a independência cultural russa; de outro, a inevitável conexão com movimentos globais sugere que mesmo em tempos de tensões, a arte e a moda continuam sendo pontes universais. Este evento nos lembra que a criação pode ser uma força poderosa capaz de transcender barreiras geográficas e ideológicas, oferecendo esperança para um futuro onde diferenças são superadas por meio do diálogo e da colaboração.