No coração da rivalidade entre Benfica e Sporting reside um vocabulário peculiar, onde os apelidos são tão antigos quanto emblemáticos. O termo "lampião", frequentemente associado aos adeptos do Benfica, tem suas origens envoltas em mistério e várias teorias. Uma das versões mais conhecidas remonta à inauguração do Estádio da Luz, localizado na Estrada da Luz. Conta-se que, antes mesmo da construção do estádio, o Benfica já era conhecido pela iluminação noturna inovadora utilizada em seus jogos. Em uma época em que os encontros esportivos dependiam exclusivamente da luz solar, o clube encontrou uma solução criativa: utilizar lâmpadas ao redor do campo para realizar partidas à noite. Embora essa técnica não tenha perdurado, ela deixou sua marca na forma de um apelido que ressoa até hoje.
Outras histórias atribuem o termo a elementos urbanos de Lisboa. Por exemplo, dizem que os candeeiros a petróleo que iluminavam as ruas da cidade eram constantemente acendidos por funcionários munidos de lanternas — ou "lampiões". Essa prática teria influenciado o imaginário coletivo, conectando o clube à ideia de iluminação. Também há registros de vendedores ambulantes que circulavam nas madrugadas portuguesas utilizando lanternas para guiarem seu caminho. Outra curiosidade refere-se ao famoso bandido brasileiro Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, cuja reputação atravessou fronteiras e pode ter inspirado este apelido, especialmente devido às polêmicas sobre favorecimento arbitral.
Do outro lado da barricada, o termo "lagarto" emerge como símbolo da identidade sportinguista. Sua origem parece menos nebulosa, mas igualmente rica em detalhes históricos. Em 1951, o Sporting lançou um projeto audacioso: um empréstimo obrigacionista sem juros destinado a financiar a construção do Estádio de Alvalade. Os títulos emitidos nesse programa eram chamados informalmente de "lagartos", devido à imagem de um lagarto estampada como marca d'água em seus certificados. Esses documentos não apenas representavam um investimento financeiro, mas também simbolizavam a paixão e o compromisso dos adeptos com o clube.
Com o tempo, o apelido "lagarto" passou a ser utilizado pelos rivais como forma de provocação, muitas vezes vinculado à cor verde predominante nos símbolos do Sporting. No entanto, para os próprios sportinguistas, ele carrega um significado positivo, evocando orgulho e resistência frente às adversidades. A construção do Estádio de Alvalade foi um marco na história do clube, transformando-o em referência internacional e consolidando ainda mais a ligação entre os torcedores e esse pequeno réptil que se tornou parte integrante da cultura sportinguista.
A rivalidade entre Benfica e Sporting transcende os limites do futebol, refletindo profundamente a sociedade portuguesa. Ao longo dos anos, esses apelidos não apenas definiram identidades individuais, mas também moldaram comunidades inteiras. Para muitos, ser chamado de "lampião" ou "lagarto" é muito mais do que um insulto; é uma oportunidade de reafirmar lealdades e pertencimento. Esse fenômeno cultural é único, mostrando como o desporto pode unir e, ao mesmo tempo, polarizar.
Em um país onde o futebol ocupa um lugar central, esses termos ganham vida própria, sendo reproduzidos em conversas cotidianas, canções populares e até mesmo na literatura. Eles funcionam como pontes entre gerações, permitindo que histórias antigas sejam transmitidas oralmente e perpetuadas através do tempo. Neste contexto, o dérbi deste sábado não é apenas um jogo de futebol, mas uma celebração da rica herança cultural que une e divide milhões de pessoas.
À medida que o relógio avança rumo ao confronto deste sábado, fica claro que a rivalidade entre Benfica e Sporting continuará a ser alimentada pelas histórias do passado. Cada apelido, cada anedota e cada partida decisiva contribui para construir uma narrativa única que ressoa além dos limites do campo de futebol. Para os benfiquistas, o termo "lampião" pode evocar orgulho ou ironia, dependendo do contexto. Para os sportinguistas, o "lagarto" representa tanto resiliência quanto provocação.
Este dérbi não será apenas uma decisão pelo título nacional 2024/25, mas também uma homenagem às raízes que definem esta rivalidade secular. Quando as equipes entrarem em campo às 18 horas, elas carregarão consigo não apenas uniformes e escudos, mas também décadas de memórias, tradições e paixões que fazem do futebol português algo verdadeiramente especial.