Em uma era marcada por transformações sociais, o discurso público tem se tornado um reflexo preocupante da trivialização do machismo. A análise conduzida por Amarildo Luiz Trevisan explora como figuras políticas utilizam a mulher como objeto simbólico, perpetuando estereótipos que pareciam superados. Seja na direita ou na esquerda, a tendência é reduzi-la a atributos superficiais, seja pela beleza física ou por papéis tradicionais no lar. Essa prática não só desvaloriza suas competências reais, mas também normaliza atitudes retrógradas que minam avanços conquistados ao longo de décadas.
Em meio a um cenário de polarização política, observamos um fenômeno alarmante: o retorno mascarado do machismo sob novas roupagens. Durante o outono político brasileiro, quando discussões sobre igualdade de gênero deveriam ocupar espaço central, declarações infelizes de lideranças nacionais têm chamado atenção. Recentemente, durante um evento parlamentar, o presidente Lula justificou sua escolha de uma colaboradora destacando sua aparência física, enquanto Jair Bolsonaro, em uma manifestação carioca, sugeriu comparações entre primeiras-damas, tratando-as como troféus. Esses episódios ilustram como mulheres continuam sendo vistas como acessórios decorativos, mesmo em contextos supostamente modernizados.
No espectro político, tanto a extrema-direita quanto setores da esquerda repetem esse padrão. Para alguns, a mulher ideal ainda é aquela associada à domesticidade e à moralidade tradicional, como exemplificado pelo caso de Marcela Temer, celebrada por revistas conservadoras como símbolo de elegância caseira. Por outro lado, na esquerda, há uma tendência oposta: a necessidade de exibir mulheres públicas como marcas de progresso, sem necessariamente amplificar suas vozes autênticas. Em ambos os casos, a autonomia feminina é relegada a segundo plano.
Esse contexto resgata debates históricos travados por figuras icônicas como Eunice Paiva e Leila Diniz, cujos gritos por liberdade ecoaram em épocas mais duras. No entanto, hoje, essas mesmas lutas parecem estar sendo ofuscadas pelo barulho das redes sociais, onde curtidas e compartilhamentos validam comportamentos que antes seriam condenados.
Da perspectiva educacional, Amarildo Trevisan alerta para o perigo de retrocessos culturais que afetam não apenas as mulheres, mas toda a sociedade. Movimentos importantes, como a abolição da escravidão e o reconhecimento dos direitos infantis, são lembrados como exemplos de avanços que jamais devem ser revertidos.
Como resultado, emerge uma questão crucial: estamos testemunhando o renascimento de preconceitos velhos sob novas formas? Ou ainda há esperança de reavivar o espírito emancipador do feminismo?
De maneira geral, o artigo evidencia que o combate ao machismo transcende questões individuais, demandando uma conscientização coletiva que vá além de likes e trending topics.
Diante dessas constatações, torna-se urgente repensarmos nosso papel como espectadores passivos de discursos retrógrados. Como jornalista, percebo que a mídia tem um papel crucial na desconstrução dessas narrativas prejudiciais. Ao invés de perpetuar imagens limitantes, precisamos criar espaços genuínos para que as mulheres expressem suas ideias, talentos e aspirações sem julgamentos externos.
Para os leitores, esta análise serve como um convite à reflexão pessoal: qual legado queremos deixar para as próximas gerações? É possível continuar caminhando rumo a uma sociedade mais justa, inclusiva e equitativa, ou simplesmente aceitaremos os ditames de um sistema que valoriza aparências em detrimento de méritos reais?
A resposta está em nossas mãos — ou melhor, em nossas mentes. Que o exemplo de grandes líderes femininas continue inspirando-nos a construir um futuro mais humano e solidário.