A abordagem adotada pela administração norte-americana tem gerado polêmica não apenas entre aliados internacionais, mas também dentro do próprio território nacional. Analistas afirmam que a lógica por trás desses números é simplista e pode desencadear uma crise econômica de proporções inimagináveis.
O método utilizado para calcular essas tarifas é descrito como rudimentar e desprovido de fundamentação econômica sólida. De acordo com especialistas, o governo americano utiliza uma fórmula que considera apenas o saldo comercial entre os EUA e seus parceiros comerciais. Esse valor é obtido subtraindo-se as importações americanas das exportações estrangeiras e dividindo-se pelo total de exportações ao país. O resultado final, muitas vezes expresso em porcentagens elevadas, é então interpretado como evidência de práticas comerciais injustas.
Essa abordagem ignora completamente variáveis cruciais, como a diversidade de recursos naturais e o nível de desenvolvimento econômico de cada nação. Por exemplo, Lesoto, uma pequena nação africana conhecida por sua pobreza extrema, foi penalizada com uma tarifa de 50% simplesmente porque suas exportações superam significativamente suas importações. Isso ocorre porque produtos como jeans e diamantes representam grande parte de sua economia, sendo impossível competir diretamente com os EUA.
Chamar essas medidas de "tarifas recíprocas" é visto como enganoso e impreciso. Consultores comerciais argumentam que não há qualquer relação direta entre as novas tarifas impostas pelos EUA e aquelas já existentes em outros mercados. Na verdade, o conceito de reciprocidade parece ter sido abandonado em prol de uma política protecionista que visa reduzir déficits comerciais, independentemente das consequências.
Dmitry Grozoubinski, consultor comercial sediado em Genebra, compara essa situação a um cenário hipotético no qual São Pedro avaliaria a moralidade de uma pessoa baseando-se exclusivamente em infrações de trânsito. Ele ressalta que tal lógica é insustentável e demonstra uma falta de entendimento profundo sobre os meandros do comércio internacional.
As repercussões dessas decisões podem ser devastadoras tanto para os EUA quanto para seus parceiros comerciais. Países que dependem fortemente das exportações para sustentar suas economias podem enfrentar dificuldades significativas, enquanto consumidores americanos poderão experimentar aumentos nos preços de bens essenciais. Além disso, a confiança nas instituições comerciais multilaterais pode ser abalada, levando a um aumento do unilateralismo global.
Cristián Bravo, professor universitário canadense, destaca que a simplicidade da fórmula utilizada reflete uma visão estreita e desinformada sobre o funcionamento das economias modernas. Ele sugere que políticas comerciais devem ser baseadas em análises rigorosas e em dados concretos, evitando soluções simplistas que ignoram contextos específicos e complexidades regionais.
Para mitigar os efeitos negativos dessa nova postura comercial, especialistas recomendam a adoção de estratégias mais equilibradas e inclusivas. Em vez de impor tarifas indiscriminadamente, seria benéfico promover diálogos construtivos entre governos e setores privados, buscando soluções que atendam aos interesses mútuos de todas as partes envolvidas.
Além disso, investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico poderiam fortalecer a competitividade das indústrias locais sem necessariamente recorrer a barreiras comerciais artificiais. A colaboração internacional também desempenha um papel crucial, permitindo que problemas globais sejam enfrentados de maneira coordenada e eficaz.