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Adeus a um Líder que Nunca Esqueceu Gaza
2025-04-22

O Papa Francisco, reverenciado em todo o mundo como líder espiritual de 1,4 bilhões de católicos, era mais do que uma figura distante para os membros da pequena comunidade católica em Gaza. Diariamente, ele ligava para a Igreja da Sagrada Família durante a guerra, preocupando-se com questões básicas como alimentação e segurança. Essas chamadas trouxeram conforto e esperança para uma congregação assustada pela violência contínua. Desde outubro de 2023, centenas de palestinos buscaram refúgio na igreja, enfrentando perigos constantes, incluindo ataques mortais. Mesmo nos últimos dias de sua vida, Francisco manteve contato com os paroquianos, assegurando-lhes sua constante oração.

Além disso, o papa destacou-se por manter viva a atenção internacional sobre a situação humanitária em Gaza, mesmo quando o conflito deixou de ser amplamente noticiado. Ele utilizou suas últimas aparições públicas para pedir paz duradoura na região, enfatizando que todos os habitantes merecem viver com dignidade e autonomia.

O Consolador das Noites de Guerra

No meio do caos devastador da guerra em Gaza, o carinho pessoal do Papa Francisco oferecia um bálsamo inestimável para a comunidade católica local. Suas chamadas diárias à Igreja da Sagrada Família não eram apenas gestos formais, mas interações sinceras que demonstravam profunda preocupação pelo bem-estar físico e emocional dos refugiados.

George Anton, porta-voz da igreja, lembrou que essas conversas aconteciam religiosamente às 19h, independentemente das circunstâncias. Durante cada chamada, Francisco perguntava detalhes triviais sobre a rotina dos paroquianos, como se haviam comido adequadamente ou se tinham acesso a água limpa. Esses cuidados singelos transformaram-no em uma figura paternal para muitos, especialmente quando dois tiros fatais atingiram mulheres dentro da igreja no ano passado. As palavras do papa ajudaram a dissipar o medo e a solidão sentidos pelos moradores. Em janeiro deste ano, durante uma dessas ligações via WhatsApp, Francisco expressou alegria ao saber que os refugiados haviam tido acesso a frango grelhado. Ainda assim, essa alegria foi temperada pela realidade crua da escassez alimentar que assombra Gaza desde o início do conflito.

As conexões diárias entre o papa e a igreja continuaram até seus últimos momentos de vida. Na última chamada, realizada dois dias antes de sua morte, Francisco reiterou seu compromisso com as orações pelos necessitados e pediu reciprocamente pelas preces da comunidade. Sua promessa de presença eterna, mesmo após sua partida, ressoou profundamente entre os desamparados de Gaza. Para eles, a morte do papa marca não apenas a perda de um líder espiritual, mas também de um pai protetor cuja ausência deixa um vácuo difícil de preencher.

Um Defensor Incansável pela Paz

Embora o conflito em Gaza tenha gradualmente desaparecido dos principais noticiários internacionais, o Papa Francisco nunca deixou de levantar a voz em defesa dos direitos humanos e da paz na região. Seu papel como mediador moral tornou-se ainda mais evidente em suas últimas aparições públicas, onde ele aproveitou cada oportunidade para chamar a atenção global para a tragédia humanitária enfrentada pelos palestinos.

Anton relembrou que o papa abordava não apenas questões religiosas, mas também aspectos sociais cruciais como educação e saúde em Gaza. Ele acreditava firmemente que cada pessoa na Faixa de Gaza tinha o direito fundamental de viver com dignidade e independência. Durante a Missa de Páscoa no Vaticano, realizada um dia antes de sua morte, Francisco saudou multidões de fiéis e distribuiu bênçãos especiais às crianças presentes. Apesar de sua fragilidade física, ele usou a ocasião para reforçar seu apelo por um cessar-fogo permanente em Gaza. Essa mensagem final, transmitida através de seu vice, ecoou como um testamento duradouro de sua dedicação à causa palestina. Os cristãos restantes em Gaza, embora minoria diminuta, continuam firmes em sua fé, celebrando tradições antigas como o Domingo de Ramos. Eles buscam inspiração nas palavras de Francisco, incentivando o mundo a ver Gaza sob a mesma luz compassiva que ele sempre defendeu.

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