Neste fim de semana, as ruas de Kyiv estiveram repletas de aromas agradáveis de panettone recém-assado e das cores vibrantes das camisas tradicionais ucranianas conhecidas como vyshyvankas. Apesar do clima festivo que unia famílias para celebrar a Páscoa, uma atmosfera tensa permeava o evento. Essa tensão foi exacerbada pelo anúncio repentino de um cessar-fogo surpreendente por parte do Kremlin, que prometia uma pausa breve na violência, mas que poucos levaram a sério. Embora a celebração proporcionasse uma rara oportunidade de descanso emocional, a menção à guerra rapidamente inflamava sentimentos entre os cidadãos.

O anúncio do cessar-fogo ocorreu no sábado, com justificativas humanitárias, um dia após o presidente Donald Trump sugerir que, caso não houvesse acordo imediato entre as partes, os Estados Unidos poderiam retirar-se de seu papel de mediador. Este trégua estava programada para durar desde às 18h do horário de Moscou no sábado até a meia-noite do domingo de Páscoa. No entanto, dentro de poucas horas, ficou evidente que essa trégua estava se desfazendo, com Ucrânia e Rússia acusando mutuamente sobre violações do cessar-fogo de um dia.

A situação política tornou-se ainda mais complexa quando o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy prontamente desconsiderou a oferta de Putin, afirmando em sua rede social X que "30 horas são suficientes para fazer manchetes, mas não para medidas genuínas de construção de confiança". Ele prosseguiu contabilizando centenas de ataques russos desde o início do cessar-fogo. Por outro lado, o Ministério da Defesa da Rússia acusou a Ucrânia de ter violado o armistício com tentativas de ataque às posições russas, relatando disparos e ataques com drones.

No meio dessa confusão diplomática e militar, ambas as partes realizaram uma troca significativa de prisioneiros, representando um exemplo raro de sucesso diplomático em um conflito prolongado. O Ministério da Defesa russo anunciou que 261 soldados russos foram repatriados em troca de 277 prisioneiros de guerra ucranianos, resultado de negociações. Zelenskyy confirmou em X o retorno dos "277 guerreiros" ao lar, acompanhado por vídeos deles cobertos pelas bandeiras ucranianas ao chegarem.

Ainda assim, a breve trégua continuava sendo minada pela violência e pela falta de confiança mútua. Desde o anúncio, Zelenskyy reiterou sua proposta de um cessar-fogo de 30 dias, enfatizando que esta proposta permanece sem resposta da Rússia há 40 dias. A timing do cessar-fogo também gerou questionamentos sobre as verdadeiras intenções da Rússia, considerando possíveis pressões políticas externas.

O anúncio surpresa do Kremlin veio apenas um dia após Trump declarar que as negociações entre Ucrânia e Rússia estavam "chegando ao ponto crucial". Ele advertiu que, se qualquer parte dificultasse as negociações, os EUA poderiam abandonar seus esforços de mediação. O secretário de Estado Marco Rubio também mencionou que os EUA podem estar dispostos a "avançar" sem continuar tentando mediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, caso não haja progresso claro nos próximos dias. Uma reunião envolvendo Rubio, enviados de Trump, além de oficiais europeus e ucranianos, está agendada para ocorrer em Londres durante a semana.

Embora o espírito da Páscoa tenha oferecido um momento de alívio temporário, as questões diplomáticas e militares persistem, mantendo incerteza sobre o futuro da região. A troca de prisioneiros demonstra algum avanço nas relações, mas a confiança necessária para um cessar-fogo duradouro ainda parece distante.