A decisão do governo norte-americano pode redefinir o tabuleiro geopolítico europeu. Enquanto as negociações avançam lentamente, as pressões internas e externas aumentam sobre o presidente Trump, colocando em risco não apenas as conversas de paz, mas também a estabilidade global.
Em Washington, o ambiente é tenso. Três fontes próximas ao governo revelaram que o presidente está cada vez mais frustrado com o andamento lento das negociações. Essa impaciência reflete-se nas palavras de Trump, que durante sua campanha prometeu resolver o conflito rapidamente. No entanto, a realidade mostrou-se muito mais complexa do que o esperado.
Embora inicialmente Trump tenha dado prazos flexíveis para o acordo – como seis meses ou até mesmo 100 dias – a rejeição russa de uma trégua incondicional proposta pelos EUA complicou ainda mais as discussões. A resposta de Moscou foi limitada a um acordo restrito sobre infraestrutura energética, deixando claro que as intenções de ambas as partes estão distantes.
Na última semana, Trump afirmou que sua vida inteira tem sido uma grande negociação, e ele reconhece quando alguém está genuinamente interessado em um acordo. Durante um discurso em 12 de abril, ele destacou que há um limite para as rodadas de negociações. “Chega um momento em que você precisa agir ou se retirar”, declarou o presidente, sinalizando que o tempo das conversas pode estar esgotado.
Secretário de Estado Marco Rubio reforçou essa postura em Paris, onde disse que o país não pode continuar dedicando todos os seus esforços à resolução deste conflito sem resultados concretos. Ele enfatizou que, caso a situação não evolua positivamente nos próximos dias, o governo poderá mudar de foco, priorizando outras questões urgentes.
Diante dessa perspectiva, surge a pergunta crucial: o que significa exatamente "abandonar" as negociações? Para alguns especialistas, isso poderia implicar uma redução significativa no apoio aos ucranianos, enquanto outros especulam que tal decisão poderia levar a um aumento nas sanções contra a Rússia. Daniel Fried, ex-embaixador dos EUA na Polônia, expressou preocupação sobre qual seria o próximo passo do governo americano.
O silêncio oficial sobre a possibilidade de permitir que a Ucrânia adquira armamentos dos Estados Unidos aumenta ainda mais a incerteza. Apesar das ameaças anteriores de Trump em relação a novas penalidades econômicas contra Moscou, até agora, o presidente preferiu manter cautela, especialmente enquanto seu enviado especial, Steve Witkoff, continua encontros privados com o líder russo, Vladimir Putin.
Marcos Montgomery, ex-oficial naval norte-americano, argumenta que a Rússia não demonstrará comprometimento suficiente até sentir o peso das consequências reais. Segundo ele, somente uma pressão máxima, seja por meio de sanções severas ou apoio militar ampliado, conseguirá influenciar as decisões de Putin. “Putin não entrará em qualquer acordo sem sentir dor”, explicou Montgomery, destacando que a abordagem atual não tem gerado impacto suficiente.
Apesar das propostas apresentadas pelo governo americano, incluindo um cessar-fogo temporário aceito pela Ucrânia em março, a implementação efetiva tem sido bloqueada por disputas técnicas. A sugestão de Keith Kellogg, enviado especial para a Ucrânia, de criar uma zona desmilitarizada patrulhada por forças aliadas, causou polêmica, levantando dúvidas sobre se tal medida equivaleria a uma partição do país.
O representante do Kremlin, Dmitry Peskov, descreveu as negociações como "extremamente complexas", reconhecendo que a Rússia busca resolver o conflito de forma alinhada aos seus próprios interesses. Porém, ele reiterou que Moscou permanece aberta ao diálogo. Paralelamente, críticas surgem tanto contra o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy quanto contra Putin, com acusações mútuas de responsabilidade pelo fracasso das tratativas.
Brian Taylor, professor de Estudos Russo-Americanos, aponta que as posições fundamentais de ambos os lados continuam distantes. Enquanto a Rússia insiste em subordinar a Ucrânia, o último defende firmemente sua soberania e independência. Esse contexto torna improvável qualquer solução rápida, especialmente enquanto Putin tenta manipular narrativas para culpar exclusivamente Kiev pelo impasse.