O Departamento de Defesa dos Estados Unidos está envolvido em um escândalo após a publicação de detalhes específicos sobre operações militares conduzidas contra os houthis no Iêmen. A revista The Atlantic revelou na quarta-feira uma conversa no aplicativo Signal entre altos funcionários de segurança nacional da administração Trump, incluindo o Secretário de Defesa Pete Hegseth. Este compartilhou informações críticas sobre horários de lançamento de aviões e ataques com bombas antes mesmo que as missões começassem oficialmente. Apesar das garantias do porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, de que nenhuma informação classificada foi divulgada, especialistas afirmam que dados desse nível poderiam comprometer a segurança operacional.
A controvérsia emergiu após dois dias tumultuados nos quais membros-chave do gabinete de Trump lutaram para justificar como tais detalhes sensíveis foram parar em um grupo público no Signal. O aplicativo, apesar de oferecer comunicação encriptada, não é considerado seguro o suficiente para transportar informações confidenciais, especialmente quando se sabe que potências adversárias, como a Rússia, têm tentado acessar suas mensagens. Durante a conversa, Hegseth especificou exatamente os horários dos lançamentos de caças F-18 e drones MQ-9, além de confirmar quando os primeiros mísseis Tomahawk seriam lançados do mar.
Esse tipo de informação costuma ser restrito para proteger os pilotos e garantir o sucesso da operação militar. Mesmo assim, Hegseth rejeitou comentar se ele realmente compartilhou segredos classificados, limitando-se a dizer que não revelou "planos de guerra". Autoridades como Tulsi Gabbard, Diretora de Inteligência Nacional, e John Ratcliffe, Diretor da CIA, deixaram claro que era responsabilidade exclusiva de Hegseth determinar se essas informações eram ou não classificadas.
O editor-chefe da Atlantic, Jeffrey Goldberg, relatou ter consultado a Casa Branca antes de publicar a conversa, recebendo a sugestão de evitar a divulgação. No entanto, o risco de exposição desses dados sensíveis já havia sido alertado pelo Departamento de Defesa em 14 de março, quando advertiram seus funcionários sobre possíveis tentativas de invasão russa ao Signal.
Embora o caso tenha gerado preocupação generalizada sobre vulnerabilidades tecnológicas e humanas, ele também levantou questões importantes sobre transparência e sigilo governamental. Em meio às tensões crescentes, Leavitt figura entre os alvos de uma ação judicial movida pela Associated Press (AP), que acusa a administração Trump de retaliar contra agências de notícias por decisões editoriais controversas. Enquanto isso, o governo continua insistindo em políticas como o uso obrigatório do termo "Golfo da América" em vez de "Golfo do México".
A situação coloca em xeque a linha tênue entre a necessidade de manter a segurança nacional e a liberdade de imprensa. Além disso, evidencia a urgente revisão de práticas de comunicação digital dentro do governo, especialmente em tempos de ameaças cibernéticas crescentes. A questão agora é: até onde vai a responsabilidade individual de cada funcionário ao lidar com informações potencialmente perigosas?