Em outubro de 2023, durante um conflito devastador na Faixa de Gaza, o papa Francisco estabeleceu uma conexão especial com a comunidade cristã local. Durante meses, ele ligava diariamente para a Igreja Católica da Sagrada Família em Gaza, oferecendo conforto e apoio moral a uma população profundamente afetada pela guerra. Essas chamadas significaram muito mais do que palavras; elas simbolizaram uma presença global solidária em meio ao caos. A morte repentina do pontífice em abril de 2024 deixou uma lacuna imensa entre os habitantes de Gaza, especialmente entre os cristãos locais, que viam nele um pai espiritual e defensor incansável.
No início do conflito, quando ataques israelenses atingiram várias igrejas na região, incluindo a igreja Ortodoxa Grega, matando dezenove pessoas, George Antone, um paroquiano de 44 anos, encontrou-se sem palavras ao receber uma chamada do próprio papa. Ele lembra como Francisco demonstrou preocupação genuína, perguntando sobre detalhes cotidianos como as refeições e a saúde de sua família. Esse gesto simples transformou-se em uma fonte de inspiração para muitos.
Francisco não se limitou a oferecer consolo verbal. Seu envolvimento foi constante e profundo. Gabriel Romanelli, padre argentino responsável pela paróquia da Sagrada Família desde 2019, relata que mesmo hospitalizado, o papa continuava a telefonar regularmente. Para Romanelli, essa dedicação pessoal criou laços inquebráveis entre o líder religioso e a comunidade de Gaza. Bahia Ayad, de 80 anos, outra integrante da congregação, recorda como Francisco ouvia atentamente suas angústias e lhes garantia proteção divina.
A influência de Francisco estendeu-se além das fronteiras de Gaza. Sua visita histórica ao Iraque em 2021 destacou seu compromisso com as minorias cristãs perseguidas no Oriente Médio. Além disso, sob sua liderança, o Vaticano reconheceu oficialmente o Estado da Palestina em 2015. Em seus últimos dias, Francisco ainda expressava publicamente críticas severas às ações de Israel no conflito, pedindo investigações sobre possíveis crimes contra a humanidade.
Apesar da partida do papa, o legado de solidariedade permanece vivo. Atualmente, a Igreja da Sagrada Família continua sendo um refúgio crucial para cerca de quinhentas pessoas, fornecendo assistência médica, alimentos e água para milhares de famílias vizinhas. Para Ayad, as últimas palavras de Francisco em sua mensagem de Páscoa foram um testemunho final de esperança, lembrando aos moradores de Gaza que eles não estão sozinhos neste mundo complexo e desafiador.