Uma rede clandestina de recrutamento, supostamente ligada à inteligência chinesa, tem tentado atrair ex-funcionários do governo dos EUA que foram recentemente demitidos para postos que poderiam expor informações confidenciais. Esses esforços são realizados por empresas aparentemente fictícias que exploram as vulnerabilidades financeiras desses antigos funcionários públicos. A pesquisa de Max Lesser, analista sênior em ameaças emergentes na Fundação para a Defesa das Democracias, destaca como essas práticas se assemelham a táticas anteriores usadas pela inteligência chinesa para obter informações valiosas sob a fachada de oportunidades de emprego.
Em um contexto marcado por demissões maciças no setor público americano, uma rede suspeita foi identificada por sua estrutura intricada e métodos enganosos. Quatro empresas — RiverMerge Strategies, Wavemax Innovation e outras duas — estão no centro dessa investigação. Seus sites compartilham designs semelhantes, estão hospedados no mesmo servidor e apresentam conexões digitais que sugerem uma operação coordenada. Essas empresas, incluindo suas ligações com uma obscura firma chinesa de serviços de internet chamada Smiao Intelligence, desaparecem ou revelam-se fictícias ao serem investigadas mais profundamente. Em alguns casos, endereços comerciais levaram repórteres a alojamentos improvisados ou campos vazios.
A rede parece focar em ex-funcionários do governo federal, especialmente aqueles com autorizações de segurança, que se tornaram alvos prioritários para serviços de inteligência estrangeiros. Uma dessas empresas, RiverMerge Strategies, promovia-se como consultoria geopolítica antes de seus canais online sumirem misteriosamente. Outra empresa, Wavemax Innovation, anunciou vagas para trabalhadores com experiência em gestão de projetos, análise de políticas e tecnologia, mas também desapareceu após escrutínio. Um funcionário anônimo admitiu ter sido contratado por conhecidos na China para postar anúncios de emprego por valores entre 1.000 e 2.000 dólares a cada poucos meses, sem conhecer plenamente os objetivos da organização.
O governo dos EUA expressou preocupação sobre a exploração sistemática de seu sistema aberto através do espionagem e coerção. O FBI reiterou que oficiais da inteligência chinesa já fingiram ser think tanks, instituições acadêmicas e empresas de recrutamento para alcançar o mesmo objetivo. Pequim nega qualquer envolvimento, enquanto especialistas alertam que essa estratégia é parte de um padrão histórico de operações de espionagem chinesa.
Com as demissões continuando em várias agências governamentais americanas, há medo crescente de que esse tipo de recrutamento aumente. Ex-oficiais de contrainteligência alertam que sentimentos de injustiça no ambiente corporativo podem levar indivíduos vulneráveis a compartilhar inadvertidamente informações sensíveis.
Este caso demonstra a complexidade e a persistência das operações de espionagem modernas. Ele ilustra como até mesmo oportunidades profissionais aparentemente legítimas podem ocultar intenções maliciosas. Este fenômeno ressalta a necessidade de medidas robustas de conscientização e segurança tanto para proteger ex-funcionários quanto para fortalecer a infraestrutura contra ataques externos. A história serve como um lembrete de que, em um mundo interconectado, cada oferta de trabalho pode esconder algo muito maior do que parece à primeira vista.