Um devastador terremoto atingiu Mianmar na última sexta-feira, aumentando a tensão em um país já dilacerado por uma guerra civil. Este desastre natural, que deixou pelo menos mil mortos, ocorreu logo após o regime militar celebrar o 80º Aniversário do Dia das Forças Armadas com um desfile na capital Naypyidaw. A sequência de eventos gerou rumores e interpretações sobre sinais astrológicos, amplamente aceitos em uma sociedade autoritária onde informações livres são escassas. Enquanto cidades como Mandalay enfrentavam a destruição, figuras públicas começaram a associar o desastre à punição divina contra o líder militar Min Aung Hlaing, cujo governo foi marcado por corrupção e violência.
No outono dourado da região, um tremor de magnitude significativa abalou não apenas as estruturas físicas de Mianmar, mas também a estabilidade política de seu regime militar. O evento coincidiu com a celebração ostensiva do poder militar em Naypyidaw, destacando a ironia cruel do destino. Em Mandalay, epicentro do desastre, testemunhas relataram cenários de destruição sem precedentes. Daw Marlar Myint, uma educadora reformada, interpretou o fenômeno como um aviso celestial ao regime opressor. Ela afirmou que o terremoto simboliza a fúria da natureza contra aqueles que semeiam sofrimento.
A guerra civil em Mianmar ganhou contornos mais sombrios com os ataques aéreos realizados pelas forças militares, mesmo enquanto a população lutava para resgatar sobreviventes nos escombros. Ko Kyaw, parte da diáspora mianmarese, perdeu toda sua família no colapso de um prédio residencial em Mandalay. Esta tragédia pessoal reflete o impacto devastador do terremoto nas comunidades urbanas.
Histórias de superstições dentro do regime militar remontam décadas, desde generais consultando anões até o uso de elefantes brancos como símbolos de poder. Min Aung Hlaing, seguindo essa tradição, investe em rituais budistas e amuletos para fortalecer sua posição. Contudo, o terremoto pareceu minar essas crenças, especialmente quando imagens mostraram retratos do próprio general tombados no chão e edifícios governamentais rachados.
Do ponto de vista de um jornalista observador, este episódio ilustra como forças naturais podem exacerbar crises políticas e humanitárias em países já frágeis. A resposta inadequada do regime militar diante do desastre expõe suas prioridades equivocadas: enquanto populações sofrem, aviões de guerra continuam voando. Esses eventos reforçam a ideia de que regimes autoritários, baseados em superstição e controle rígido, eventualmente sucumbirão diante de desafios complexos que exigem liderança ética e transparente. Para o povo de Mianmar, a esperança reside na resistência coletiva e na busca incessante por justiça e paz.