No mês passado, o ministro das Relações Exteriores de um país com uma das mais altas taxas de infecção por HIV/AIDS do mundo revelou à Reuters que já está sentindo os efeitos das reduções na assistência internacional. Essa dependência da ajuda externa no setor de saúde tem causado preocupação não apenas na África e na Ásia Sudeste, mas também entre as nações ricas. O novo cálculo tarifário implementado pelos Estados Unidos gerou confusão e críticas generalizadas. Enquanto alguns defendem a fórmula como um meio de equilibrar barreiras comerciais, economistas questionam sua eficácia e relevância.
O impacto das decisões comerciais recentes dos Estados Unidos tem sido amplamente debatido. Na Europa, por exemplo, a nova metodologia resultou em uma tarifa punitiva de 20%, muito acima da média calculada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Stefano Berni, diretor-geral do consórcio italiano que representa os produtores do queijo Grana Padano, expressou insatisfação ao afirmar que agora custa três vezes mais para acessar o mercado americano do que para queijos americanos entrarem no mercado europeu.
A controvérsia não se limita ao setor lácteo. Kush Desai, porta-voz adjunto da Casa Branca, tentou justificar a metodologia postando no X que "literalmente calculamos barreiras tarifárias e não tarifárias". No entanto, especialistas como Mary Lovely, do Instituto Peterson, discordam, argumentando que a fórmula carece de substância metodológica e pode ser simplificada a uma relação comercial desproporcional. Ela compara a abordagem a uma prescrição médica baseada em critérios arbitrários, chamando-a de enganosa.
Robert Kahn, da consultoria Eurasia Group, reforça essa crítica, afirmando que o método gera números sem significado material. Além disso, ele alerta que tal política sinaliza um distanciamento dos laços históricos entre os Estados Unidos e seus aliados tradicionais. A percepção de que o governo Trump pode estar usando isso como uma tática inicial para renegociar acordos bilaterais ainda é objeto de debate. Stephen Adams, ex-conselheiro de comércio europeu, destaca que não há medidas específicas identificadas para alterar essa postura.
Essas questões têm repercussões globais. Enquanto países dependentes de ajuda humanitária enfrentam dificuldades crescentes, os parceiros comerciais dos Estados Unidos lidam com incertezas sobre a viabilidade de negociar mudanças nessa abordagem mecânica. As tensões evidenciam a necessidade de uma revisão mais aprofundada das políticas comerciais internacionais.
A nova abordagem dos Estados Unidos reflete uma mudança significativa nas relações comerciais globais. Ao mesmo tempo em que busca nivelar o campo de jogo comercial, ela levanta dúvidas sobre sua aplicação prática e os efeitos colaterais para os países em desenvolvimento. Os desafios apresentados exigem uma cooperação internacional renovada para mitigar os impactos adversos e promover uma economia global mais inclusiva e sustentável.