Ao longo dos últimos dias, o mundo acompanhou com horror as consequências devastadoras do terremoto de magnitude 7.7 que abalou a região sudeste asiática. Enquanto imagens e vídeos capturaram a extensão do caos no vizinho Tailândia, a situação em Mianmar permanece envolta em mistério. O país, marcado por anos de censura digital e restrições à liberdade de imprensa, enfrenta dificuldades adicionais para divulgar informações sobre o desastre.

Descubra como a censura impacta diretamente a resposta humanitária em Mianmar

O Silêncio Digital Após o Abalo

Quando o tremor atingiu Mianmar na tarde de sexta-feira, cerca das 12h50 no horário local, o país foi confrontado não apenas com danos físicos, mas também com um silêncio tecnológico. Em uma era onde a conectividade é crucial para avaliar e responder a crises, Mianmar encontra-se isolado. A centralização do controle das telecomunicações pelas mãos do regime militar desde o golpe de 2021 exacerbou a falta de informação.Desde o início do golpe, a internet tem sido usada como uma arma política. Bloqueios regulares, cortes de acesso a redes sociais e restrições à circulação de dados têm sido práticas comuns. Durante emergências, essas medidas podem comprometer ainda mais a capacidade de resposta ao desastre. No caso deste terremoto, vários sites oficiais controlados pelo governo ficaram inacessíveis logo após o evento, evidenciando a fragilidade do sistema digital nacional.A infraestrutura já precária de Mianmar foi posta à prova. Com quedas de energia e danos estruturais, muitas áreas se encontram completamente desconectadas. Especialistas alertam que isso pode retardar significativamente a chegada de ajuda humanitária, colocando vidas em risco. Ao contrário do que ocorreu na Tailândia, onde os danos foram amplamente documentados e compartilhados nas redes sociais, em Mianmar há um vácuo de informações que só pode ser preenchido com esforços extraordinários.

O Impacto da Censura na Emergência Humanitária

A censura digital em Mianmar não é apenas uma questão política; ela tem repercussões diretas sobre a vida das pessoas em situações de crise. Sem meios adequados de comunicação, as populações afetadas pelo terremoto enfrentam enormes desafios para solicitar assistência ou informar autoridades sobre suas necessidades urgentes.Joe Freeman, pesquisador de Mianmar na Anistia Internacional, destacou que as políticas de bloqueio de internet do país estão impedindo que o verdadeiro alcance do desastre seja compreendido. "Enquanto no Tailândia a cobertura do terremoto foi exaustiva, com relatos detalhados e imagens abundantes, em Mianmar continuamos sem uma imagem clara do dano causado", afirmou Freeman. Essa discrepância revela o quão profundo é o impacto da censura sobre a transparência e a eficiência das operações de resgate.Além disso, em regiões controladas por grupos rebeldes, a conexão à internet é ainda mais instável. Nesses locais, muitos recorrem a serviços baseados em satélites, como o Starlink, para manter contato com o exterior. Mesmo assim, a cobertura é limitada e frequentemente insuficiente para transmitir informações críticas em tempo real. Este cenário cria uma barreira adicional para coordenar esforços internacionais de socorro.

Contraste entre Passado e Presente

Antes do golpe de 2021, Mianmar experimentava uma transformação digital sem precedentes. A popularização do Facebook e o aumento no uso de smartphones permitiram que milhões de cidadãos compartilhassem conteúdo variado, desde memes culturais até debates políticos acalorados. Durante crises anteriores, como a propagação da pandemia de Covid-19 e os protestos contra o golpe militar, as plataformas digitais desempenharam papéis cruciais na disseminação de informações e mobilização pública.Hoje, essa dinâmica mudou drasticamente. A repressão digital fez com que o fluxo de informações fosse drasticamente reduzido. Em vez de vermos uma avalanche de posts e vídeos relatando o terremoto, testemunhamos um silêncio ensurdecedor. Este contraste serve como um lembrete poderoso da importância da liberdade de expressão e do acesso irrestrito à internet, especialmente em momentos de urgência.O futuro de Mianmar depende de sua capacidade de superar essas barreiras tecnológicas. Para isso, será necessário um esforço global que priorize a democratização do acesso à informação, garantindo que todas as vozes possam ser ouvidas, mesmo nas circunstâncias mais adversas.