O relacionamento entre a Groenlândia e os Estados Unidos atingiu um novo ponto baixo após o anúncio de uma visita oficial à ilha por parte de autoridades americanas, incluindo a segunda-dama Usha Vance. O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute B. Egede, descreveu a viagem como "altamente agressiva", em meio às ambições declaradas do presidente Donald Trump de anexar a região autônoma dinamarquesa. Enquanto Washington apresenta a visita como uma celebração da cultura groenlandesa, figuras locais veem-na como um gesto de poder.
A visita ocorre em um contexto delicado, onde questões geopolíticas envolvendo recursos minerais raros e influência no Ártico colocam a Groenlândia no centro das disputas entre EUA, Rússia e China. Apesar da maioria esmagadora dos groenlandeses ser contrária à anexação pelos EUA, há interesse em cooperação econômica e investimentos estrangeiros para áreas como turismo e mineração.
O governo groenlandês expressou insatisfação com a escolha do momento da delegação americana, especialmente durante um período eleitoral sensível. A presença do conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, foi particularmente criticada como um símbolo de pressão externa. Para muitos líderes locais, essa abordagem contradiz o respeito necessário às decisões soberanas da população.
Em entrevista ao jornal Sermitsiaq, Egede questionou as intenções reais da visita, sugerindo que seu propósito principal é consolidar a ideia de posse americana sobre a Groenlândia. Ele argumenta que tal postura reflete a mentalidade imperialista do governo Trump, dificultando qualquer tentativa construtiva de diálogo diplomático. Além disso, Jens-Frederik Nielsen, provável próximo líder do país, destacou a falta de consideração demonstrada pela administração americana ao programar a visita em meio a negociações políticas internas na Groenlândia.
Embora aGroenlândia rejeite firmemente a possibilidade de anexação, ela reconhece a importância de colaborar com os EUA em projetos estratégicos. Mineração de terras raras e promoção turística são vistas como áreas promissoras para parcerias futuras. No entanto, tais acordos devem ocorrer dentro de limites claros que preservem a autonomia local.
A posição dinamarquesa também se manifesta neste cenário, com a primeira-ministra Mette Frederiksen enfatizando a necessidade de respeitar a soberania da Groenlândia enquanto busca cooperação bilateral. Pesquisas recentes revelam que a grande maioria dos habitantes da ilha não deseja integrar-se aos Estados Unidos, percebendo a interferência norte-americana como uma ameaça potencial. Mesmo assim, intercâmbios culturais, como a participação na tradicional corrida de trenós, oferecem oportunidades para fortalecer laços positivos sem comprometer princípios fundamentais.