Com os olhos voltados para uma solução diplomática, a Europa se prepara para enfrentar uma nova fase de tensões comerciais com medidas legítimas e proporcionais.
As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos provocaram uma onda de preocupação em toda a Europa. Em particular, a França já convocou uma reunião de emergência com setores afetados pelas sanções americanas. Especialistas destacam que as indústrias francesas de vinhos e licores poderiam sofrer severamente com essas decisões protecionistas. Além disso, empresas automotivas alemãs como BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen podem enfrentar perdas substanciais, estimadas em até €11 bilhões, dada a relevância das exportações alemãs para o mercado norte-americano.
Neste contexto, o presidente do Instituto Kiel para a Economia Mundial, Moritz Schularick, traçou um paralelo impactante ao descrever a situação atual. Ele mencionou que, assim como um galho pode ser flexionado várias vezes até quebrar, a confiança mútua entre os Estados Unidos e seus aliados europeus também pode ter atingido seu limite. Essa ruptura, segundo ele, será difícil de reparar no curto prazo.
Diante dessa escalada comercial, a União Europeia conta com um recurso legislativo robusto conhecido como Instrumento Anti-Coação (ACI). Este mecanismo, implementado em 2023, concede amplos poderes à UE para impor sanções comerciais e de investimento contra governos estrangeiros que utilizem práticas comerciais coercitivas. Bernd Lange, líder do comitê de comércio internacional do Parlamento Europeu, explicou que, apesar de sua força, o uso do ACI deve ser considerado apenas como último recurso.
Lange ressaltou que o objetivo principal ainda é encontrar uma solução negociada, mas deixou claro que a UE não hesitará em tomar medidas enérgicas caso necessário. Ele também sugeriu que, em cenários de maior escalada, gigantes tecnológicos americanos poderiam ser alvos específicos das retaliações europeias.
A eficácia da resposta europeia dependerá diretamente da capacidade dos 27 estados-membros de unirem esforços em torno de uma estratégia comum. As discussões preliminares entre ministros de comércio europeus devem ocorrer nos próximos dias, revelando possíveis divergências entre os países membros. Por exemplo, enquanto a França está preocupada com o impacto nas exportações de vinho, Irlanda teme uma migração maciça de multinacionais americanas estabelecidas no país.
Além disso, a Itália, sob a liderança de Giorgia Meloni, enfatizou a importância de evitar uma guerra comercial que enfraqueceria o Ocidente frente a outros atores globais. Essa postura reflete a necessidade de equilibrar interesses nacionais com solidariedade europeia, garantindo que qualquer ação coletiva seja tanto firme quanto estratégica.
No campo empresarial, a Federação Alemã da Indústria (BDI) qualificou as tarifas de Trump como um "ataque sem precedentes" ao sistema comercial internacional. Em comunicado oficial, a entidade advertiu que o protecionismo ameaça comprometer a prosperidade, a estabilidade e o emprego em todo o mundo. A BDI defendeu uma resposta unificada da UE, sublinhando a importância de fortalecer alianças com outros parceiros comerciais globais.
Por outro lado, a Dinamarca vive um momento delicado devido às tensões crescentes com os Estados Unidos sobre o futuro status de Groenlândia. A visita da primeira-ministra Mette Frederiksen à ilha demonstra a determinação dinamarquesa em manter laços sólidos com a população local, mesmo diante das pressões externas. Ao mesmo tempo, autoridades groenlandesas preparam-se para negociar suas demandas futuras com Copenhague, num ambiente cada vez mais complexo devido aos interesses estratégicos americanos.
Os mercados financeiros europeus refletiram imediatamente as incertezas geradas pelas tarifas americanas. O índice Stoxx 600 registrou queda significativa no início das operações, chegando ao nível mais baixo em mais de dois meses. Países como Alemanha e França experimentaram quedas expressivas em seus índices acionários principais, com o DAX alemão caindo quase 2,5% e o CAC 40 francês recuando 2,2%.
Especialistas econômicos alertam que essa volatilidade pode se intensificar caso as negociações entre EUA e UE não avancem rapidamente. Nesse sentido, a cooperação entre governos e setor privado será crucial para mitigar os efeitos adversos dessas medidas protecionistas.