Um acordo mediado pelos Estados Unidos para um cessar-fogo marítimo entre Rússia e Ucrânia tem gerado preocupações entre analistas ocidentais, que o veem como uma lista de desejos do Kremlin e mais uma concessão do presidente Donald Trump ao líder russo Vladimir Putin. A delegação americana negociou separadamente com autoridades russas e ucranianas na Arábia Saudita, tentando cumprir a promessa de Trump de encerrar rapidamente os conflitos na Europa Oriental. Embora o acordo tenha sido anunciado pelo White House, ele oferece poucos benefícios claros à Ucrânia, enquanto fortalece as posições estratégicas da Rússia, incluindo a retomada do acesso ao mercado mundial para exportações agrícolas e fertilizantes.
O acordo proposto foi cercado por críticas de especialistas em relações internacionais, que destacam seu favorecimento desproporcional à Rússia. Segundo James Nixey, diretor do programa Rússia-Eurasia do think tank londrino Chatham House, os Estados Unidos parecem dispostos a aceitar quase qualquer acordo, mesmo que isso comprometa a posição honesta de mediador nos diálogos diplomáticos. A decisão de Washington seria vista como uma priorização das relações com Moscou em detrimento das demandas ucranianas.
Ainda mais controverso é o suposto retorno às operações financeiras internacionais da Rússia, que incluiriam sua reconexão ao sistema SWIFT, vital para transações globais. Este aspecto levanta questões sobre a viabilidade prática do pacto, especialmente considerando a resistência europeia a aliviar sanções impostas após a invasão russa da Ucrânia há três anos. Especialistas argumentam que tal medida enfraqueceria a segurança europeia e prejudicaria ainda mais a situação da Ucrânia.
Muitos observadores também questionam a disposição real da Rússia em aderir aos termos do acordo. Enquanto Moscou afirma já estar respeitando um cessar-fogo informal relacionado à infraestrutura energética desde março, autoridades ucranianas denunciam essas declarações como falsas. O presidente Volodymyr Zelenskyy expressou ceticismo sobre a confiabilidade russa, sugerindo que buscaria apoio adicional dos Estados Unidos caso a trégua fosse violada.
A implementação do cessar-fogo permanece incerta, dependendo de condições como o levantamento de restrições bancárias internacionais. Essa exigência coloca os Estados Unidos em possível confronto com a União Europeia, que até agora tem mantido uma postura firme contra Putin. Analistas alertam para os riscos de um entendimento equivocado entre Washington e Moscou, enfatizando a necessidade de precaução diante de movimentos estratégicos complexos.
A questão central do acordo reside na desconfiança mútua entre as partes envolvidas. Apesar do otimismo declarado por representantes americanos e russos, o futuro do cessar-fogo dependerá não apenas de vontades políticas, mas também de um consenso internacional difícil de alcançar. Para muitos, este episódio reflete tensões crescentes nas relações transatlânticas e demonstra a complexidade das negociações contemporâneas em meio a interesses geopolíticos divergentes.